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Palavrão: liberdade ampla, geral e irrestrita na campanha eleitoral?


Por Elizabeth Menezes

30/04/2024 18h55 — em
Ombudsman



De acordo com a lei, a propaganda eleitoral deste ano terá início a partir de 16 de agosto mas, na prática, já começou e com direito a termos chulos entre pretensos candidatos. Termos pejorativos do tipo “puxa-saco” ou “bajulador”, agora pode ser “baba-ovo”, nas redes sociais. Foi essa a definição do pré-candidato a prefeito de Manaus, Capitão Alberto Neto (PL) para o Coronel Menezes(PP), de quem era aliado até há pouco tempo. “Eu sinto falta do Menezes. É o melhor baba-ovo que eu já vi na vida”, afirmou Alberto Neto, um dos oito deputados federais pelo Amazonas. Isso tudo porque o coronel, também nas redes sociais, disse que o capitão, aliado a “esquemas”, iria desistir da pré-candidatura a prefeito. 

A história do coronel e o capitão chama a atenção, porque ambos sempre foram aliados de Jair Bolsonaro. A política os separou: Bolsonaro “abençoou” o capitão para disputar a prefeitura, o coronel mudou de partido, deve ser candidato a vereador, mas nenhum contesta a liderança do ex-presidente, em nome da direita no Amazonas. Resta saber se um pretendente ao cargo de prefeito de Manaus prefere usar termos chulos durante debates na televisão, por exemplo. Nas reportagens escritas, termos considerados ofensivos (também chamados de “baixo calão”), costumam ficar entremeados de asteriscos, para evitar dizer “grosseria”, “insulto”, “indecência”, “imoralidade”, “porcaria” etc. Mas talvez esse tipo de recurso nem seja mais necessário. 


Aqui mesmo, no Amazonas, a imprensa já reproduziu xingamentos de agentes públicos, usando as expressões “cadela”, “puta”, “vadia” e outros. Nos embates eleitorais, já é tradição a baixaria geral, acusações contra adversários, além dos últimos recursos da tecnologia, na forma de fake news. Só falta xingamento movido a palavrão fazer parte do combo. Será um trabalho a menos para quem escreve notícias, porque deixa de usar o sinal gráfico asterico e ganha tempo. Enquanto isso, as costumeiras práticas de períodos eleitorais já estão em andamento, junto com os movimentos para viabilizar candidaturas, que ainda precisam ser confirmadas nas convenções partidárias.     

ALÉM DO PALAVRÃO NA DISPUTA ELEITORAL 

À medida que o prazo para as convenções partidárias vão se aproximando, as manifestações de pré-candidatos à prefeitura de Manaus se intensificam, “com ofensas para lá, ofensas para cá”, conforme já opinou o diretor-geral deste portal. Raimundo de Holanda. “Ser adversário não é ser inimigo e isso vale para todos os pré-candidatos e seus apoiadores, hoje focados na crítica e na desconstrução dos adversários”, lê-se na coluna Bastidores da Política, no dia 23.  “A troca de ´farpas´ entre os pré-candidatos à prefeitura de Manaus não é a apenas inoportuna.  Depõe contra os concorrentes que precisam demonstrar capacidade criativa, espírito público, compromisso com as mudanças que a sociedade espera a cada eleição e que sempre fica para depois”. 


Já o portal Amazonas Atual, na coluna Expressão, divulgada na segunda-feira 29,  aborda não apenas a questão de “baixarias e notícias falsas”, mas também o envolvimento de veículos de comunicação. “Desde as eleições de 2008, assistimos a uma onda nos meios de comunicação da capital amazonense, principalmente naqueles veículos de baixa qualidade e audiência, com a cessão de espaço a pessoas pagas para atacar reputações de candidatos. Nesta sanha perversa de 'derrubar' o conceito do candidato junto ao seu eleitorado, vale tudo”, lê-se num trecho. “Algumas dessas pessoas ultrapassam o limite da liberdade de expressão e comunicação e chegam à prática de crimes contra a honra e a dignidade, além de crimes eleitorais. Já estamos vivendo essa realidade em Manaus. Os 'comunicadores' a serviço de candidatos para atacar adversários já estão em serviço, e o nível dos discursos´ nunca foi tão rasteiro”.

Registre-se que se trata da opinião publicada em dois conhecidos portais de notícias de Manaus, ambos dirigidos por jornalistas.  “A cada eleição cresce o número de sites, blogs e perfis nas redes sociais com o propósito de promover ´eleições sujas´ ou “campanha eleitoral suja´”, insiste o Amazonas Atual. “A coisa piora ainda mais quando esse resquício de atraso intelectual e político envolve as duas figuras que administram a cidade e o estado. Mesmo em campos opostos - o governador apoia um candidato do seu círculo – não podem se envolver em contendas mesquinhas.  O debate público exige grandeza, impessoalidade, bom senso”, defende o Portal do Holanda. Em resumo: há muita coisa no front. 

 
Ao dizer que, neste momento, o debate consiste na “desconstrução do adversário”, a coluna sugere à Redação pautar reportagens que demonstrem essa análise. Seria muito interessante.

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Elizabeth Menezes, jornalista formada pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas), repórter em jornais de Manaus, a exemplo de A Notícia, A Crítica e Amazonas em Tempo. Também trabalhou na assessoria de Comunicação da Assembleia Legislativa.

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